Zonas Cinzentas

Escrito por: Eneida Lombe Tavares

Fiz uma tabela com duas colunas: a primeira com marcas de design e a segunda com marcas de designers, pronta para escrever características de uma e outra em cada linha. Tentativa falhada à nascença. O pano de fundo comum: a palavra marca que, para mim, será aquilo que distingue uma coisa de outra coisa. E neste momento, a verdade é que, tendo ou não uma marca de design, sendo ou não designer com uma marca, qualquer pessoa/entidade é conotada, marcada, situada em algum lugar ideológico muitas vezes sem retorno. As redes sociais estão obviamente ligadas a este fenómeno e ampliam-nos mais ainda.

“Se semi-cerrar os olhos, diria que marcas de design e marcas de designers se aproximam nos processos, mas caminham em sentidos diferentes. Marcas de design inspiram-se nessas relações pessoais para criar narrativas mais humanas, aproximadas e ultra personalizadas se quisermos. As marcas de designers talvez tenham uma personalidade própria desde o princípio que se vai esbatendo com o tempo.”

Considero que as marcas de design se vão humanizando e a rapidez com que absorvem, capitalizam episódios/detalhes mundanos dá-lhes uma infinidade de abordagens, novos caminhos possíveis e já não nos espantamos se uma marca de roupa desportiva também vende casas ou tem um canal de televisão.

As marcas de designers (aqui leia-se como profissionais independentes, os ENI’s, as unipessoais e por aí fora), partem na maioria das vezes de alguém, de um colectivo, de uma personalidade que se vai construindo, com recurso – na sua escala – às ferramentas que uma marca de design/empresa utiliza. Aos poucos, esse alguém transforma-se numa
persona, que é o designer, a “cara” da marca. Dá a “cara ao manifesto”, a sua humanidade vai sendo empurrada para dentro de casa, dando lugar ao designer-marca lá fora que, entre pessoa-profissional, se depara com desafios permanentes de identidade.

Tudo o que se faz, como faz, diz, como diz, passa a ser um compromisso sério que não pode falhar, voltando à questão ideológica. É um terreno pantanoso, onde as marcas de design enquanto estrutura empresarial facilmente contornam essas exigências éticas, mais do que uma marca de designer, que é automaticamente pessoalizada. Algumas marcas de designers começam por separar as águas e não utilizar o seu próprio nome como nome da marca. É uma estratégia, não sei se é mais ou menos eficaz no conflito pessoa-persona, mas talvez seja útil em certas ocasiões.

“Considero que as marcas de design se vão humanizando e a rapidez com que absorvem, capitalizam episódios/detalhes mundanos dá-lhes uma infinidade de abordagens, novos caminhos possíveis e já não nos espantamos se uma marca de roupa desportiva também vende casas ou tem um canal de televisão.”

Se semi-cerrar os olhos, diria que marcas de design e marcas de designers se aproximam nos processos, mas caminham em sentidos diferentes. Marcas de design inspiram-se nessas relações pessoais para criar narrativas mais humanas, aproximadas e ultra personalizadas se quisermos. As marcas de designers talvez tenham uma personalidade própria desde o princípio que se vai esbatendo com o tempo.

Marcas de design e marcas de designers podem parecer a mesma coisa, eu acho que não são, mas também acho que podem ser. Zonas cinzentas com fartura e no final deste texto fiquei ainda mais confusa. Tudo bem, sempre é melhor que uma tabela.

 

Eneida Lombe Tavares

Fotografia: Mariana Lopes

 

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