Vão aparecendo cada vez mais marcas a doar milhões para ajudar na luta contra o novo coronavírus. Este apoio aparece na forma de máscaras faciais e equipamento hospitalar. Isto é maravilhoso, e extremamente importante porque fortalece a primeira resposta à pandemia.
Por outro lado, vai-se responsabilizando a globalização pela propagação super-sónica do novo coronavírus – a globalização que, por causa de cada um de nós (consumo), gera marcas com volumes de negócio tão grandes que agora têm a capacidade de doar milhões para ajudar no combate ao vírus, é a mesma globalização que aparentemente está na base da rápida propagação do vírus e cujo combate requer muitos milhões para ser bem sucedido.
A globalização é de facto óptimo bode expiatório. Promove o estilo de vida que muito apreciamos aqui na parte rica do mundo, à custa dos recursos naturais do Planeta, explorando os direitos humanos, e segregando economicamente regiões inteiras do globo. Muitos tentarão argumentar contra o que acabo de escrever, mas o que está muito para além de qualquer argumento neste momento, é a evidente interdependência de empresas em todo o mundo, tornada evidente pelo caos económico consequente da propagação do novo coronavírus.
Eu diria que: a globalização é um design por acabar.
Qualquer objecto tem um propósito na sua génese e um sujeito que lhe deu forma. Um designer é um perito em encontrar forma(s) para uma função. Começamos a trabalhar em cima de uma ideia abstrata até chegarmos a um produto funcional. Seja um clip, uma cadeira, um edifício ou uma cidade. Por vezes fazemos este trabalho com tanta perícia que nos chamam “artistas”. Outras vezes fazemos o nosso trabalho de forma tão artística que os nossos colegas o consideram “conceptual”.
Porém, muitos objectos existem na zona cinzenta entre produto (comercial) e ideia (conceptual). Enquanto conceitos estão demasiado presos a premissas comerciais, e enquanto produtos estão demasiado conceptualizados. Estes objectos serão possivelmente o resultado de processos de design insuficientes ou incompletos, e não necessariamente objectos falhados.
O novo coronavírus não está a revelar a globalização enquanto falhanço humano. Revela sim, que a globalização apesar ou por causa dos seus benefícios, existe na zona cinzenta entre produto e ideia, e por isso ainda está frágil e precisa de mais trabalho de desenvolvimento.
A globalização precisa de designers para chegar à forma final!!