O Mercado mudou

Terminas uma licenciatura ou mestrado em design, de produto/industrial/equipamento (doravante designado como design de produto), e queres vender o(s) teu(s) projectos. Como fazes?

Tens algumas opções:

  1. Esqueces o assunto e arrumas no portefólio.
  2. Apresentas a marcas do mesmo segmento ou posicionamento do produto. Aqui, ou te compram o projecto, para o qual tens de dar um preço, ou te pagam em royalties, normalmente uma percentagem sobre o valor de fábrica.
  3. Vendes directamente. Ficas responsável por produzir, comunicar, vender e enviar/entregar os produtos. Aqui tens o controlo sobre o teu trabalho.  

Se na moda têxtil é comum associarmos grandes marcas a nomes próprios, no segmento casa, para onde a maior parte dos designers de produto desenham, já são praticamente inexistentes. Apesar de o design de produto em Portugal ser uma disciplina com algumas décadas, é bastante infértil em marcas próprias.

Uma das razões apontadas é que Portugal tem uma história industrial de manufactura especializada e experiente, em sectores como o têxtil, o calçado, mas a cerâmica, o vidro, a serralharia e o mobiliário, mas não tem marcas. Nestas indústrias, onde há uma forte tradição e ligação com o design de produto, produz-se sobretudo para clientes de marcas estrangeiras, do Norte e Centro de Europa e EUA . Por isso, a indústria da manufactura dificilmente convida designers para colaborar, porque está assente num modelo mais seguro de fornecimento de produtos acabados a terceiros.

Outra razão apontada é a de que o designer de produto tem uma esfera de conhecimento meramente técnica – operativa, sobre como as acções de produção se realizam, e a criação de marcas exige capacidades adicionais. Para contribuir para aumentar a cadeia de valor destes sistemas de produção usando competências de inovação, ao nível da forma, dos materiais, dos processos, necessitaria também de storytelling, de branding e de marketing.

Se estes termos estrangeiros necessitariam anos de aprendizagem, hoje são absorvidos naturalmente através das mais poderosas ferramentas de interacção social, as redes sociais. O crescimento significativo destas comunidades contribuiu para o desenvolvimento de uma audiência específica, a das vendas online.  

Penso que por isso, hoje mais do que nunca, faz sentido o designer de produto criar a sua própria marca.  

Aqui pode haver duas variações. Numa primeira abordagem é criar uma auto-marca, assente na identidade própria como criador e possivelmente fazedor/artesão. A segunda, será criar uma marca multi-autor, onde existe um factor identitário/económico agregador, como tipologia, material e processos de fabrico, segmento ou território. Cada modelo tem obviamente as suas características e vantagens / desvantagens modelos.  Podendo até assumir uma forma mista, seja em auto-marcas que empregam uma pequena fábrica, ou marcas multi-autor que trabalham em regime de galeria.

Qualquer forma que estes negócios tomem, são hoje uma realidade e povoam cada vez mais as redes sociais, as feiras internacionais e, pouco a pouco, as nossas casas.

Escrito por Paulo Sellmayer.

Este artigo está apenas disponível em português.

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