Em 2008 vivemos uma crise financeira global. Nessa altura eu tinha alguns projectos de design em curso com empresas Portuguesas e estrangeiras. Parou tudo de uma semana para a outra, e em 2009 tive de fechar o escritório. Tal como a maioria dos designers, eu trabalhava com contratos de royalties sem orçamento para cobrir trabalho de projecto. Sem redundâncias, a queda foi abrupta!
Em 2010 comecei a trabalhar num projecto que mais tarde viria a transformar-se na Ghome. Na altura nunca imaginei que passados 6 anos iria fundar uma marca de mobiliário. O meu único objectivo era construir uma estrutura profissional robusta para mim, enquanto tentava perceber as razões que poderiam explicar que empresas tão maiores do que a minha se tivessem revelado tão vulneráveis. A ideia era montar um escritório de design capaz de assumir a responsabilidade da totalidade do processo de desenvolvimento de um produto: do conceito e desenvolvimento técnico, até à produção e à venda. O grande desafio era: criar uma audiência e vender os produtos directamente. A estratégia foi: produtos bem desenhados, éticos e de baixo impacto; ter uma rede de fornecedores pouco industrializada, assente numa rede de fabrico nacional e com recurso a materiais locais; priorizar vendas nacionais; e entender rendimento para além de performance financeira.
2010 não está assim tão longe, e hoje vivemos uma nova crise global. A pandemia provocada pelo Covid-19 é uma crise humanitária. Mas porque está a atingir sobretudo a zona mais rica do Planeta, as implicações financeiras serão enormes. As medidas políticas e o esforço cívico indiciam que esta pandemia estará controlada em breve, e com uma taxa de mortalidade baixa. Oxalá! Contudo, economicamente, cidadãos e empresas vão viver tempos muito interessantes no futuro imediato.
Fundei a Ghome em Novembro de 2016, que no fundo era o resultado positivo visível de uma estratégia montada para superar uma crise financeira. Poderá ser que por isso a Ghome tenha um ADN imune a crises. Nao sei. Aquilo que eu sei, é que desta vez o negócio não está ser afectado. Pelo menos não está a ser mais afectado do que a maioria dos negócios, e aparentemente está a ser menos afectado do que muitos. Tal como a maioria das marcas que não negoceiam bens de primeira necessidade, a Ghome neste momento não regista vendas. Mas na minha opinião este não é o momento para forçar vendas. O foco deve ser humanitário. Ter a disponibilidade para parar o meu negócio e focar naquilo que realmente importa neste momento, faz-me sentir muito bem pessoalmente.
Dizem-me que a Ghome é demasiado pequena para ser atingida por uma crise global. Não tenho contra-argumento para apresentar. Mas ser uma marca pequena é uma escolha deliberada, e um desafio grande a muitos níveis. Porém, um desafio tornado mais fácil pelo facto da Ghome se fornecer localmente e vender directamente os seus produtos. A ti que já compraste Ghome, OBRIGADO! Por causa de ti, a Ghome está a conseguir manter uma estrutura pequena evitando o mercado do retalho. Mantermo-nos pequenos permite-nos minimizar o impacto negativo e maximizar o impacto positivo. Mais uma vez, obrigado! Cada vez que escolhes Ghome dás-nos a força que precisamos para conseguirmos continuar pequenos.
A Ghome retomará a actividade quando for seguro. Até lá, foca-te no que é realmente importante. Fica seguro, e ajuda o próximo.